Série a Sério – Crônica do Véio

No sábado me permiti largar os livros para distrair e renovar as forças. Assisti a mais um fiasco da seleção de futebol. No início da madrugada de domingo vi um ex-cinturão do MMA apanhar de novo, e feio. No final da tarde, foi a vez do meu Flamengo mandar outro fiasco, mas é inegável que temos os melhores administradores financeiros do futebol. Um dia, talvez tenhamos até futebol.

Durante o jogo da seleção o Galvão repetiu o bordão – agora mantra – da responsabilidade que o jogador sente quando veste a camisa canarinho… durante uns segundos voltei no tempo.

“Seleção Canarinho” foi termo cunhado pelos idos de 1954, quando o Brasil aposentou a camisa branca da memorável derrota para o Uruguai em 1950, assistida por mais de 170 mil brasileiros, no Maracanã da Geral. Perdemos em 54, mas fomos campeões em 1958, bicampeões em 1962 e tricampeões em 1970 – essa eu assisti na TV, a última Copa em preto e branco. Foi uma ascensão meteórica ao topo do futebol: do mico de 50 ao tricampeonato vinte anos depois.

De fato, foi uma era em que fazia sentido dizer que a cor da camisa pesava. Depois de 70, mesmo com o Tetra e o Penta, o Brasil deixou de ser melhor que as demais seleções. Tivemos inovações, do carrossel holandês ao tic-tac recente da Espanha, mas o Brasil insiste em repetir os mesmos jogadores do fiasco de 2014, que por sua vez insistem nos seus mesmos erros. Mas, devo reconhecer, desta vez não choraram em público.

A narração do Galvão há muito não faz sentido. O Brasil que Galvão enxerga/entrega é o de 2015, mas ele vende/anuncia o de 1970. Ele trata os fiascos como superáveis pelo simples fato de você acreditar e continuar no canal. Faz o mesmo na Fórmula 1, vendendo os campeões de 1972 até 1991, mas embalando, quando muito, com um terceiro lugar por ano. Mesmo assim, a cada manhã de domingo lança a expectativa de que no domingo seguinte será melhor. Faz parte, basta continuar fazendo acreditar, quem quer.

Perdemos em quase todos os esportes. Não temos tenistas como Guga, nem velejadores como os Grael, nem pilotos como Fittipaldi, Piquet e Senna, nem mesmo um governo com economistas como os do plano real. E o dragão voltou.

Os Galvões da política estão aí. Sempre criando a expectativa de que amanhã será melhor, contanto que você não mude de canal.

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